Há praticamente um ano atrás, a World Surf League reuniu em Malibu, Califórnia, os melhores surfistas de ondas grandes do planeta para a Gala que atribui os Prémios das Ondas Grandes. Aproveitando a ocasião revelou ainda o novo recorde mundial para a maior onda alguma vez surfada*, por parte do brasileiro Rodrigo Koxa.
No entanto, o que ninguém sabe, é que, nestes dias de ondas de dimensão XXL, Rodrigo Koxa faz muitas vezes parelha com o piloto e surfista de Santa Cruz, Sérgio Cosme. Foi precisamente Sérgio Cosme quem rebocou o brasileiro para a onda que valeu o novo recorde mundial.
Sérgio Cosme é o típico surfista que o público desconhece. Nunca ganhou um campeonato de surf ou participou no Campeonato Nacional, mas é uma das figuras que podemos encontrar na água em dias de ondas grandes, nomeadamente na Praia do Norte, junto aos reconhecidos chargers de serviço como Nic von Rupp, Garrett McNamara, Hugo Vau, Andrew Cotton, Rafael Tapia, Alex Botelho, Eric Rebiere, Carlos Burle e Maya Gabeira, entre muitos outros.
O surfista santacruzense sempre foi multifacetado, combinando o surf com o snowboard e ainda o desporto motorizado. Foi precisamente a procura pela adrenalina e o envolvimento com uma situação de risco sempre presente que o levou para o mundo das ondas grandes.
“Eu sempre gostei de superar as minhas próprias expetativas e através destas ondas não há como não superá-las.”
A paixão pelo reboque/tow é antiga e tem a ver com o gostar muito de conduzir motos. É verdade que Sérgio Cosme surfa desde pequeno, mas conduz motos há muito mais tempo. Portanto, juntar as duas coisas foi como uma espécie de evolução natural que serviu para dar o importante passo na direção das ondas grandes.
“Essa onda do Koxa foi especial, pois estavam vários portugueses na equipa. Além de mim, estava também a Joana Andrade e o António Silva. Desde 2013 que acompanho o Koxa e ao longo dos anos fomos fortalecendo a parceria. Hoje em dia, sempre que cá vem, eu sou o seu piloto, logicamente”, começou por dizer o piloto de Santa Cruz.
Sobre a onda em si, aquela que acabou por ditar a nova marca mundial no campo das ondas grandes, Sérgio recorda como tudo aconteceu:
“Inicialmente tinha-lhe perguntado se queria surfar várias ondas ou ser mais paciente e esperar por uma bomba. É uma pergunta que costumo colocar aos surfistas, pois há quem se esteja a marimbar. Ele disse-me que queria esperar pela bomba. Foi o que fizemos. Nesse dia, após hora e meia na corda, ele acabou por surfar apenas a onda que bateu o recorde do mundo. Esperámos muito tempo e fizemos várias abordagens a algumas das maiores ondas. Contudo, não eram bem o que procurávamos. A determinada altura há um set gigante que entra e nós decidimos arrancar. Faço sinal para a segunda onda, mas no último instante optamos por seguir apenas na terceira uma vez era esta que parecia ser muito grande. Tudo se passou em frações de segundos…”
Apesar da vasta experiência e de já ter estado presente em vários mares grandes, Cosme não tem dúvidas: “Tenho de ser sincero. Quando a vi aproximar-se nunca tinha visto algo tão grande atrás de mim. Por momentos tive a noção de que aquela poderia ser a maior onda. Na altura até foi engraçado, porque vi o tamanho e fiquei na dúvida se ele queria mesmo ir. “Koxa, queres ir? É bomba! Queres ir?” – gritei. E ele, com uma cara de alucinado, respondeu: “Vai! Vai! Vai!” Foi um misto de sensações muito fortes”.
Aos 39 anos, Sérgio Cosme é uma das emblemáticas figuras que podemos encontrar regularmente nas praias e nas ondas da terra mágica. Está ligado ao surf, ao tow-in, ao resgate aquático e à segurança de praia… mas é também o orgulhoso sócio número 67 da Associação Sealand Santa Cruz.
Obrigado por ser quem és e por toda a tua paixão!
Imagens // Jorge Figueira, Hélio António, Margarita Adrovez & José Pinto
* Rodrigo Koxa é detentor da maior onda, de 80 pés (24.38 metros), que foi surfada na Praia do Norte, Nazaré, a 8 de novembro de 2017. O reconhecimento oficial bateu a marca anterior de Garrett McNamara, conseguida em 2011, de 78 pés (23.77 metros), em 61 centímetros.