Guilherme Fonseca tem uma carreira recheada de conquistas nas camadas juniores – três títulos nacionais na divisão Sub-18 e um vice-campeonato em Sub-20 – e tem vindo a ser uma das escolhas do selecionador nacional de surf para representar as cores da nação. É também um dos regulares da costa oeste e um dos nomes de destaque da Liga Nacional de Surf – onde volta a vestir a licra já esta sexta-feira, 1 de março.
Em 2019 passa a fazer parte da Associação Sealand e a levar o nome de Santa Cruz para onde quer que o surf o leve, seja a nível nacional ou internacionalmente.
Aproveitámos o regresso a casa, depois de uma longa e proveitosa terceira temporada havaiana e de uma recente visita à nossa sede, para lhe lançarmos algumas questões e ficar a conhecê-lo um pouco melhor.
Para começar, partilha connosco o essencial sobre a experiência havaiana…
Foi uma viagem que abriu horizontes como surfista, pois o Havai é um sítio que se vive a constante competição na água, competição para apanhar a melhor onda e manobra. Eu fui para o Havai à procura disso mesmo.
O North Shore é um sítio onde, numa curta distância, temos ondas muito diferentes e versáteis, e por isso é que saem de lá muitos bons surfistas. Há muitas ondas e spotsdiferentes, desde tubos a rampas para dar aéreos a ondas moles, com muita massa. Como já referi, eu fui à procura disso, de ver surfistas melhores que eu para elevar o meu nível e vir com ritmo para as ondas portugueses, que são incríveis.
O nível na água foi o que mais me surpreendeu, surfar com o Kelly Slater e o Mick Faning, bem como muitos outros surfistas do World Tour (WCT); e ver que eles também caem e arriscam bastante para elevar o nível, mostrando pelo caminho que é preciso muito treino e que uma pessoa não chega ao topo de um dia para o outro.
E quanto ondas…
Em Pipe tive muita dificuldade em apanhar ondas, pois há sempre muito crowd. Os locais são super difíceis, mas apanhei altas em Haleiwa, grande; em Rocky Point diverti-me imenso, é uma onda que dá para fazer tudo, desde aéreos, tubos e surf de rail. Esta viagem serviu essencialmente para mudar o “chip” e trazer a experiência e o oxigénio do Havai para Portugal, de forma a que consiga também elevar o nível e puxar pelo surf português.
“Surfava muito por aqui, conheço muita malta de Santa Cruz e esta sempre foi uma praia onde passei muitas horas a treinar”
Ao contrário do que se possa pensar, as tuas origens também remontam a Santa Cruz. Fala-nos do papel de Santa Cruz na tua formação enquanto atleta e de como sempre mantiveste com esta terra um elo especial?
Para começar deixa-me dizer que vivo perto de Santa Cruz, a cerca de 20 minutos, na Lourinhã. Depois, um dos meus primeiros treinadores foi o Fred Rebelo, que é de Santa Cruz e me treinou dos 12 aos 16 anos. Portanto, surfava muito por aqui, conheço muita malta daqui e esta sempre foi uma praia, principalmente a do Mirante, onde passei muitas horas na água a treinar. Essa é a minha maior ligação a Santa Cruz.
Que mais te cativa em Santa Cruz?
Talvez os incríveis beach breaks que a zona detém. Gosto quando os bancos estão secos, perto da areia e tubulares. Quando está vento de leste e um banco power, sei que vou fazer bons tubos. É definitivamente isso o que mais me cativa em Santa Cruz. (risos)
“É preciso muito treino, uma pessoa não chega ao topo de um dia para o outro”
Antevê-se uma temporada longa e intensa a de 2019, mas que objetivos concretos tens em mente?
Bem, junto com a Noah Surf House, o meu patrocinador, decidimos que este ia ser um ano onde estaria mais envolvido em viagens mas que ao mesmo tempo teria de participar em alguns eventos do circuito mundial de qualificação para começar a ganhar ranking, alguma bagagem, para que, no próximo ano, já consiga fazer provas do QS de maior pontuação e mais fortes.
Agora que regressei do Havai, vou fazer provas do WQS em Santa Cruz, Costa de Caparica e Zarautz (norte de Espanha). Sempre que esteja em Portugal também irei fazer a Liga MEO Surf, pois é muito importante. Depois destes eventos que mencionei, vou para a Indonésia por um longo período, um mínimo de três meses, pois preciso fazer muito surf, evoluir tecnicamente para que possa estar em competição mais confiante e à vontade.
Esse é o meu objetivo: viajar mais, ao mesmo tempo fazer os QS e os nacionais para não perder a bagagem competitiva, mas, como referi, o objetivo passa mais por evoluir tecnicamente o meu surf.
Gui, sê bem-vindo à família Sealand!
Imagens de Tomás Belo