Este é o sítio que eles chamam de casa

Foto: Miguel Martins
Quisemos saber porque os estrangeiros escolhem a Terra Mágica.

Não é fácil largar a terra natal e começar a vida noutro lugar. Certo é que Santa Cruz tem atraído cada vez mais estrangeiros e muitos acabam por se fixar por cá. Porquê? Diz que é o amor.  Amor pela terra e pela cara-metade.

Natural da Suécia, mas com nacionalidade norueguesa, Ida Svendsen encontrou em Santa Cruz o que precisava para ser feliz. Há 10 anos que conhece o sítio, de várias férias passadas por cá, pois o tio é português, mas foi apenas há cinco que decidiu ficar ao lado do marido Gonçalo Cunha e criar o seu negócio por aqui –  a Enjoy Surf School Portugal.

Quando lhe perguntamos se foi fácil decidir ficar, Ida responde logo que sim. “Foi tranquilo. Portugal é relativamente perto da Noruega… são apenas três horas de viagem.” Os pais já estão habituados à sua ausência. Aliás, nenhum dos três filhos está em casa (um está nos Estados Unidos e outro numa cidade a norte da Noruega). Hoje com 28 anos, entre estudos e viagens, já passou por países como Brasil, Colômbia, Índia, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, vários países da Europa, mas a terra mágica é aqui. “Para mim é o sítio mais bonito do mundo. Não só pela natureza, mas também pelas pessoas que estão cá. Aqui encontrei um grupo de amigos e um ambiente muito bom. É difícil encontrar isto noutro lado. As praias, a paisagem… são muito selvagens e é uma beleza natural muito rara de se encontrar.”

Uma opinião partilhada por Valeriya Gnsk. “A beleza de Santa Cruz é evidente. O que descobri com o tempo foi também a força da comunidade. E aqui acho que posso dizer que a Sealand tem contribuído muito para esta força. Foi um exemplo para mim… Sabes, às vezes coisas que não parecem tão grandes, mas têm potencial e conseguem fazer as coisas…  A Sealand para mim é esse exemplo –  quando um grupo pequeno de pessoas faz mexer muitas outras. Aprecio muito isso em Santa Cruz.”

Natural de Petrozavodsk, na Rússia, Valeriya, de 25 anos, veio parar a Santa Cruz para surfar. Não se imaginava a viver num sítio tão pequeno, até porque os planos eram outros, mas depois conheceu Johny Vieira e já lá vão dois anos. “Gosto de surfar mas a água é muito fria [risos]. Acho que o que me fez mesmo ficar foi o meu namorado e com o tempo que passei aqui comecei a sentir-me muito em casa. Posso dizer que é o primeiro local onde me sinto em casa. Estivemos a viajar pela Ásia nos últimos dois meses e percebi o que significa sentir saudades de um lugar. Foi a primeira vez que me aconteceu. Este é o sítio que chamo de minha casa.”

A cara dela é familiar a quase todos e quem não a conhece basta juntar-se na Esplanada Antero de Quental, no último sábado de cada mês para vê-la “dançar” em cima de um skate de longboard. “Foi na Finlândia que descobri todo o conceito do longboard dancing, mas foi aqui que tudo começou, ao lado da Sealand.” O sucesso foi tal que abriu o seu próprio negócio Longboard Days&Nights e são vários os eventos que organiza. Por Santa Cruz deslizamos tanto no mar como por terra.

E por falar em deslizar no mar, o bodysurfer David Forbes, de 58 anos, já está em Portugal há 32 anos. Devo, como é tratado pelos mais próximos, nasceu na Austrália, em Adelaide, mas cedo quis ir ver o mundo. Viveu em Barcelona durante seis anos, mas quando conheceu a mulher acabou, primeiro, por ir viver para Caxias, em Oeiras, mas quando o terceiro filho nasceu, vieram para Santa Cruz, onde descobriram o verdadeiro sentido de lar. Estudou Direito, mas não era isso que queria fazer da vida e hoje dá aulas de inglês. O que mais gosta deste pequeno canto do oeste? “Do mar. Claro que adoro também outras coisas… já tenho muitos amigos e a vida aqui é boa”, salienta.

DA HOLANDA COM AMOR. “Quando tinha 26 anos vim com o meu amigo de férias numa viagem muito hippie. Seguimos em direcção a Lisboa e depois viemos até Santa Cruz. Na altura, não conhecíamos ninguém e metemos conversa com umas miúdas (amigas da Tânia, sua mulher) e combinámos ir a uma festa de reggae na Praia Azul. Foi aqui que nos conhecemos.” E já lá vão 11 anos que Job Leijh, hoje com 37 anos, decidiu juntar os trapos e ficar por cá.

Holandês, de uma cidade perto de Harlemo, as saudades de casa são algumas, mas voltar não é opção. Deixou o trabalho de edição de vídeo para se dedicar à sua verdadeira paixão: a permacultura e e todo o conceito da agrofloresta. A trabalhar ao lado da mulher nas Areias do Seixo há seis anos, tudo o que se leva para a cozinha é plantado por eles. E tudo de forma sustentável. “Começámos a plantar uma horta biológica/orgânica com a ideia de introduzir espécies de plantas que vivem mais do que um ano. E estamos cada vez mais focados em plantas que nos podem sustentar durante mais tempo em termos de nutrição. Queremos diversificar este espaço e criar uma área de bem-estar, não só de produção de alimentos de forma sustentável, mas também de contacto com a natureza”, explica-nos enquanto nos mostra as courgettes, as abóboras, as cenouras, o milho, as nêsperas, as flores e plantas comestíveis, as galinhas, os morangos, os tomates, os figos, o feijão, a batata doce e as bagas.

Santa Cruz tem disto. Mar, natureza e tudo o que precisamos para viver e viver bem. “Parece que o vento traz muita coisa positiva e leva o stress e as coisas que não são importantes na vida. Estamos aqui à beira mar e isso é uma das maravilhas para mim. É tão forte esta ligação com a natureza. É como estar numa floresta enorme.”

O amor pela nossa terra é tão grande que decidiram abraçar um novo projecto que vai gerar frutos por Santa Cruz, no verdadeiro sentido da palavra. “Lugar da Terra” vai ser uma floresta comestível, focada na sustentabilidade. “Queremos produzir legumes e outros tipos de produtos que podem ser interessantes para o mercado local. Não é uma quinta educativa, mas acho que vai ser um sítio para aprender mais sobre permacultura, agrofloresta e sustentabilidade.”

No surf, skate ou na agricultura, certo é que aqui encontraram o que queriam e por aqui vão continuar. Afinal, ninguém é estrangeiro na terra onde vive e Santa Cruz sabe acolher bem os seus e os que vêm de fora

0 replies on “Este é o sítio que eles chamam de casa”